Entidades médicas de cuidados paliativas e de medicina intensiva se pronunciaram sobre a medida de Cremesp, que já divulgou uma nova nota sobre o assunto
Quem acompanha a IMM sabe que atuamos há 15 anos com atividades culturais e de humanização na área da saúde. Para contribuir com a situação da pandemia, resgatamos todo o nosso aprendizado para criar o projeto Conexões do Cuidar, que entre as diversas atividades, inclui a visita virtual entre pacientes familiares.
Diante de todas as histórias que acompanhamos e os resultados positivos da ação que presenciamos ao longo da pandemia, o parecer recente do Cremesp (Conselho Médico Paulista) que proíbe as visitas virtuais de familiares a pacientes com Covid-19 na UTI ou nas emergências levantou discussões entre diversos especialistas: o Conselho avalia a exposição de pacientes sedados ou em coma como “absolutamente proibida”, já que eles não poderiam consentir.
Adotadas pela IMM em mais de 40 instituições, as videochamadas são essenciais para aliviar o sofrimento mental de quem está isolado, sendo uma das poucas maneiras de contato que os enfermos têm com os entes queridos. Temos apoio de diversos profissionais da saúde, como a Dra. Ana Claudia Arantes, embaixadora do projeto e especialista em cuidados paliativos. Após o comunicado, ela se pronunciou nas redes sociais, gerando repercussão entre as entidades médicas de cuidados paliativas e de medicina intensiva:
“O impedimento de acesso à experiência de dignidade oferecida dentro deste momento de despedida preenchido de amor e respeito, mesmo que de forma remota e virtual de uma chamada de vídeo é o ato final de crueldade que eu não aprendi a fazer e me recuso a aceitar”, diz a Dra. Ana Claudia. “Tenho vergonha de quem apoia e recomenda a privação de um último instante de dignidade. E posso dizer que as pessoas que apoiam essa crueldade devem fazer parte do grupo de seres humanos que não merecem ocupar a cadeira e nem o lugar que conquistaram.”
Além da preocupação do próprio paciente, angustiado entre a vida e a morte, a família, do outro lado, compartilha a mesma apreensão. Como não poder ver alguém que você ama e que pode morrer a qualquer instante? O geriatra Douglas Crispim, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, disse à Folha de S. Paulo: “A restrição com o argumento de evitar a exposição de paciente prejudica em grande parte os entes queridos. Eles não estão interessados em expor imagens, mas, sim, em manifestar o seu carinho pela pessoa que está ali.”
O projeto Conexões do Cuidar pôde amenizar a solidão e a saudade de mais de 7 mil pessoas entre pacientes e familiares – entre eles José Beraldo, que foi hospitalizado na Unidade de Emergência do HC de Ribeirão Preto diagnosticado com a Covid-19 e ficou mais de 20 dias internado. A educadora da ImageMagica, Beatriz Hoffmann, relembra como foi conhecê-lo e vivenciar esse momento ao realizar essa conexão via videochamada: “Quando soube que José tinha progredido e transferido para outro leito, sabia que poderia conhecê-lo e realizar a conexão com sua família (…). Ele, feliz, dizia que não acreditava que poderia ver a família e que não imaginávamos o que era a solidão naquele espaço. Não, de fato, não imaginávamos”. Todavia, a videochamada faz a diferença.
No final de abril, o Brasil ultrapassa 400 mil mortes por Covid-19. Com hospitais lotados e profissionais sobrecarregados, é mais que necessário que haja cada vez mais iniciativas que auxiliam no tratamento humanizado, mantendo o direito dos pacientes se conectarem com seus familiares – e não o contrário.
Dias depois do comunicado, em nota oficial, a Cremesp diz que não tem poder legal de proibir algo por meio de parecer, e que reconhece a importância da tecnologia para conectar familiares e pacientes. Nosso projeto, Conexões do Cuidar, segue nos hospitais parceiros atuando a favor da vida e da humanidade (reiterando que nenhuma visita virtual acontece sem a autorização prévia do paciente).